Histórias de vida e identidade profissional

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Sobre Muros e Mediação didática


Por Patrícia Pacheco

No início das aulas dessa disciplina Cristina nos pediu que conceituássemos livremente o que era para nós DOCÊNCIA. Naquele dia escrevi: “É a experiência contínua de mediação de conhecimentos específicos em uma escola ou faculdade”. Claro que essa foi uma definição aligeirada mas acho interessante retoma-la agora para, à luz do texto e do filme recomendados, melhor refletir sobre essa mediação que fiz referência no início do curso.

O texto e o filme me fazem perceber que esse sentido da docência enquanto mediação é tão encantador e prazeroso quanto complexo e extenuante. É encantador e prazeroso porque mediar saberes significa encontrar-se com a nossa forma primordial de aprendizado na qual aprendemos o que é imediato para nosso ordenamento no mundo  e aprendemos em conjunto, pelas trocas, pelos saberes significativos à nossa cultura e ao nosso ser no mundo.

Por sua vez, é complexo e extenuante porque a sociedade contemporânea, em suas demandas produtivistas, não quer essa mediação, não a valoriza nem a compreende. Na escola e nas universidade o que vigora é a hierarquização dos saberes como se fora desses lugares, ou antes que eles existissem, não houvesse relação de aprendizado significativas advindas de outras tradições. Eis como o texto aponta a complexidade que envolve o mediar nesse contexto:

“O espaço da mediação didática está justamente em descobrir o que os alunos sabem e como o sabem. O professor, parafraseando Macedo (2000), como mediador de saberes é também um tradutor. Assim, o professor é um mediador entre as idéias dos educandos e os objetos de conhecimento. (d´Ávila, 2005)

 O filme-documentário Entre os Muros da Escola, por sua vez, traz um incômodo generalizado que revela exatamente a dificuldade de mediar em contextos engessados e conservadorismo. Nesse sentido, torna-se emblemático o processo de construção da autobiografia dos alunos solicitado pelo professor pois há uma busca de conectar as experiências dos alunos com o conteúdo estudado. Relembrem a cena aqui

O nível de mobilização que o professor consegue dos alunos com a citada atividade encontra explicação na afirmação de Cristina d´Ávila(2005)

“O que importa, para o desenvolvimento adequado da mediação didática docente, é considerar o que o aluno traz como bagagem cultural e, então, ensinar/mediar de acordo. O trabalho pedagógico é um trabalho de delicada tradução.

O que significa dizer que essa bagagem cultural não só potencializa essa mediação como acaba por selecionar o que o sujeito, de fato, irá apreender, visto que

“No cotidiano docente, nas salas de aula, experimentamos que os conhecimentos, as normas e as diretrizes descolados das experiências sociais que os produzem se tornam abstratos, distantes e desinteressantes” gerando “conhecimentos  pobres em significados sociais e em motivação,(ARROYO, 2011).


Referências:
Entre os Muros da Escola (do original Entre les Murs), França, 2007, direção de Laurent Cantet.
D´ÁVILA, Cristina. A mediação didática na história das pedagogias brasileiras.Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 14, n. 24, p. 217-238, jul./dez., 2005
ARROYO, Miguel G. Currículo, território em disputa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.

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